Nestes últimos dias tenho-me mantido distanciado mas não indiferente ao
turbilhão de notícias, comentários, interpretações e opiniões sobre a eleição
do Arcebispo de Buenos Aires como Papa. Na posição de espectador mas não
expectante, no papel de observador mas não observante de Roma e dos seus
ditames, vou analisando e vou construindo a minha opinião sobre o homem que
ocupa a cátedra de São Pedro. Perante o que tenho visto, penso já poder formar
um juízo sem querer ser julgador.
Creio sinceramente na bondade das pessoas, até prova em contrário e até que
cada pessoa em concreto me vá demonstrando na prática não ser merecedora da
minha confiança. Dou sempre o benefício da dúvida e faço constantemente o
exercício de querer ver no outro a centelha divina que me anima a mim e a cada
Filho de Deus. O mesmo já não digo em relação às instituições e organizações
que muitas das vezes demonstram ser mais instrumento do Inimigo do que
propriamente do Espírito Santo. Já fui mais ingénuo e tendo a pensar que
dificilmente se reforma ou se transforma uma instituição sem que os agentes de
reforma sem esmagados por ela ou tenham que decidir sair fora da mesma por
chegarem à conclusão que os seus esforços são infrutíferos. Ainda assim, como
diz a Bíblia, "tudo é possível para aquele que crê" e "nada é
impossível para Deus."
Olhando para o Papa Francisco vejo sinais encorajadores e diviso uma pessoa
que parece querer implementar algumas mudanças no sistema vaticanista. O que me
leva a pensar isto? O Papa é uma pessoa sorridente, simpática e afável que me
recorda João XXIII e João Paulo I. O Papa Francisco parece querer pensar pela
sua própria cabeça e quer ser ele a definir o protocolo. Sinais disto são o
facto de não ter sido visto com a mozzetta vermelha papal e a sua facilidade em
falar espontaneamente com o seu povo, como se estivesse à mesa com todos os
presentes na Praça de São Pedro, e de, por momentos, parecer esquecer-se do
tempo. Talvez tenha pensado mal mas pareceu-me que a dado momento alguns dos cardeais
que o acompanharam à varanda temeram que o Papa se mostrasse inconveniente
falando demais. Um Papa muito solto parece ser um problema para quem vive
obcecado pelo protocolo...
Facto extraordinário e de profundo significado foi o pedido que o Papa fez
ao povo para rezar por ele antes que ele rezasse pelo povo. O que demonstra
isto? Humildade, certamente, mas também o reconhecer implícito que ele está ali
para servir e não para ser servido e que é no povo, na Igreja no seu todo que
ele vai buscar a sua legitimidade e autoridade e não apenas no colégio
cardinalício. Quererá o Papa que os leigos venham a ter um papel decisivo na
eleição do Bispo de Roma?
Outro sinal importante foi o beijar das mãos dos cardeais dos países onde os
cristãos mais são perseguidos. Mais uma vez um sinal de humildade e de alguém
que não se coloca acima dos restantes mas que se reconhece como servidor e como
estando ao nível dos outros bispos.
Este Papa é mais sóbrio e vive mais o espírito franciscano de pobreza ao
prescindir (até ver) da referida mozzetta, ao envergar uma cruz peitoral
simples, ao não calçar os sapatos vermelhos de pontífice e ao viajar de
autocarro com os seus colegas cardeais depois da eleição (mesmo tendo um carro
à sua disposição).
Mas há também um passado que parece querer persegui-lo e que, veremos, se
ensombra ou não o seu pontificado. Refiro-me ao seu silêncio e papel passivo
aquando da cruel ditadura militar argentina face aos atropelos aos direitos
humanos e às centenas de pessoas opositoras ao regime que foram mortas. No que
concerne aos tradicionais temas polémicos da homossexualidade, aborto e ao
papel das mulheres na Igreja, pelo que tem sido a sua linha, não espero nenhum
tipo de mudança. A ser mudada alguma coisa, mas duvido que tal possa acontecer
pelas implicações culturais e financeiras que poderiam advir, seria a abolição
do celibato obrigatório para os sacerdotes. Terá o Papa interesse nisto? E
tendo, terá força para levar avante tal medida? Por menos houve um Papa que
permaneceu no seu lugar apenas 33 dias...
Que ventos sopram do Vaticano? Será o Papa Francisco apenas mais um Papa
simpático mas inconsequente que fará as delícias do merchandising
religioso ou será um dos poucos que deixará uma marca reformista e indelével na
Igreja de Roma fazendo-a voltar-se mais para os princípios puros do Evangelho
de Cristo? Será ele mais uma figura decorativa ou será alguém que enfrentará os sinistros poderes instalados da cúria? Que o Espírito Santo oriente e auxilie este homem neste pesadíssimo
ministério. Que o Espírito Santo derrame sobre o Papa o mesmo espírito que
animou Francisco de Assis e que o fez regressar às coisas simples e a fomentar
a fraternidade universal.
Sou Católico Apostólico Romano mas adorei o seu artigo, bem como o de Leonardo Boff. Obrigado pela sua partilha. Obrigado pelo seu testemunho. Grandes tempos que vivemos hoje. Que Deus nos ajude a viver na sua Luz.
ResponderEliminarUm abraço em Cristo,
Manuel Filipe Santos.
Manuel Filipe Ferreira dos Santos, você diz ser Católico Apostólico Romano, mas caiu em contradição em dizer ter adorado o de Leonardo Boff, esse herege que está mais para se tornar um filho de Martim Lutero, esse ex frei Boff , casou com uma mulher separada e estáva sempre contra o Santo Padre Bento XVI, um apostata e levando milhares de pessoas a compactua com suas heresias,ou o senhor não sabe que essa tal teologia da libertação já foi condenada pelo Santo Padre Bento e o Beato João Paulo II hein?
ResponderEliminarPeço a Deus que O Papa Francisco tenha força para fazer aquilo que o Santo Padre Bento vinha fazendo, Acabar com todas essas heresias e com todos modernista que hje virou uma verdadeira epidemia!